Um dia senti este mundo pequeno demais para mim. Então
alguém do meu lado prometeu ampliá-lo, o engraçado que essa amplidão vinha
dentro de uma seringa. Aceitei sua proposta e penetrei em outro mundo. Posso
dizer que gostei, um mundo de miragens, tudo que eu procurava, uma sensação
orgásmica um sonho ilusório de múltiplas sensações.
Até que certa hora acordei, cercado pelos tais ‘amigos’, todos jogados ao léu. Senti algo aqui em mim, me deprimi com aquela situação. Mas não demorou muito
quis voltar a aquele mundo, não sei porque mas me sentia atraído, vivi tudo
novamente, ao fim da noite a mesma angústia. Por vezes quis voltar, por livre e
espontânea vontade. Mas aos poucos não tinha mais escolha, eu era obrigado a
voltar ou então acho que morreria.
Não suportava mais a depressão as aflições do meu corpo e os
delírios da minha mente. Aos poucos sentia que não era mais dono de mim, estava
totalmente dependente e aquele mundo me guiava. Confesso que tentei fugir, mas
me sentia como em um buraco negro sem expectativa de terra firme. Prisioneiro em
uma cela revestida de pontiagudas lanças, se apertando mais e mais, gritava em
total agonia, mas ninguém me ouvia.
Então me rendi, vi que sozinho não podia e procurei ajuda. E
foi através dessa ajuda que descobri que meu problema vai bem além do vício. Nessas
idas e vindas me deparei com um germe cruel, o vírus da própria morte. Antes cercado
de amigos, hoje não tenho mais ninguém, pareço estar radioativo, todos querem
distancia têm medo de me tocar. Me olho no espelho e não me reconheço, só vejo
as feições da morte.
Em meu corpo esquelético o mundo se amplia, não suporto mais
tanta amplidão, não aguento mais esse vazio, me enterrei na depressão. Quis mudar
de mundo e conheci seu pior lado, onde havia só lodo. Procurei uma outra alternativa
e caí direto em um fosso. Hoje não quero mais nada, gostaria de poder viver,
mas gastei minhas fichas e não tenho mais chances. Minha vida se resume em
pílulas, leito e dores.
Hoje fiz meu testamento, deixo a todos meu exemplo, meu mau
exemplo diria.
Sonhe seus sonhos e os tornem reais,
Busque felicidade verdadeira, não segundos de delírio.
Não se entregue
nunca.
Lute por si mesmo até o fim.
Saiba quando dizer
não.
Saiba quando dizer sim.
Aprenda a conhecer as amizades
E a olhar dentro dos olhos.
Hoje vou embora dessa vida, até espero que exista outra,
quero aprender a respeitá-la, já que essa eu não soube. Não me chamem de
covarde, covardia maior é procurar um outro mundo, quando já se tem tudo. Vou
dar um fim a esse tormento, só termino agora com o pulsar do coração, pois minha
vida eu perdi há muito tempo, suicídio eu cometi, quando fui incapaz de dizer
NÃO.
(Joana Maria)
Em algum mês do ano 2000